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Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

04.Nov.12

Cortesia ligeira

 (Foto de NILTON FUKUDA/AE, in http://blogs.estadao.com.br/)

 

Era fim de tarde. Aproximei-me da estrada. O trânsito era intenso. As entradas eram curtas. Fui forçando a passagem. Esperei dez ligeiros, cinco pesados e três motociclos. Fiquei impaciente. Senti-me pressionado. Pesado. Mas a minha vez haveria de chegar. Um ligeiro reparou em mim. Abrandou a marcha intencionalmente. A abertura tornou-se longa. Do outro lado, a fila era larga. Entrei finalmente. Agradeci a cortesia. Fiquei aliviado. Mais leve. Mais ligeiro[1].


Dentro da fila avistei ao longe outro impaciente. Também queria entrar na minha fila. Nem hesitei. Abrandei a marcha. Dei sinal de luzes. O outro, ligeiro, entrou e agradeceu. Fiquei ainda mais leve. Ainda mais ligeiro. Mas não o suficiente para voar até casa.


Esgueira (Aveiro), 24 de outubro de 2012.



[1] Na Estremadura, ligeiro tem, entre outros, o significado: o carneiro que serve de guia ao rebanho (cfr: http://www.priberam.pt/)