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Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

07.Jul.12

O lugar da conversa

 

O ajustamento económico tem destas coisas. Umas vão outras vêm. De um dia para o outro, melhor dizendo, numa semana, desinstalamos o telefone fixo da PT e mandamos vir outro móvel e da concorrência. Quem vai ao ar perde o lugar, dissemos os três cá em casa.

 

Por minha iniciativa, dirigimo-nos a uma loja e quisemos saber como proceder. Foi tudo muito fácil. Eram só facilidades. A aquisição do novo aparelho fez-se logo ali e veio connosco acondicionado numa caixa de cartão.

 

A substituição ficou agendada para um sábado. Enquanto não chegavam os técnicos foram sendo enviadas SMS a anunciar, para breve, a sua presença na nossa residência.

 

Chegaram, confirmaram os dados indicados na SMS e, em dois tempos: um, para se inteirarem das tomadas e, outro, para arrumarem a tralha, pois a instalação durou poucos minutos, despejaram o nosso antigo hóspede.

 

O novo inquilino passaria a ter o posto de abastecimento de energia no nosso apartamento e ficaria o resto do tempo no andar da mãe dela, mesmo por debaixo do nosso.

 

Nos dias seguintes, quando me dirigi ao piso inferior, estranhei ver a mãe dela sentada no sofá a falar ao telefone com as amigas do lado de lá, tal e qual como fazia anteriormente. Ali, naquele sítio, bem junto ao antigo poiso do telefone fixo, a conversa decorria como se nada fosse.

 

Afinal, o dom da mobilidade do aparelho que (julgávamos nós) iria alterar o lugar do diálogo com os ausentes, não tinha pernas para andar. Por isso, em respeito pelo lugar natural das coisas, o extremo do sofá deixou de ser apelidado como o lugar do telefone e passou a ser designado como o lugar da conversa.


A crise tem destas descobertas.

 

Vila Nova de Gaia, 7 de julho de 2012

02.Jul.12

Sigo

Sigo

a sugar o horizonte azul.

Vou imóvel

no ar preso.

 

Esqueço-me de existir,

e acordo a sonhar comigo.

 

Eu que não tinha vontade

de acordar.

 

 

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Esta imagem (será um clique?), expressa agora em verso, foi surpreendida por mim ou surpreendeu-me quando viajava na VCI/A20, mais precisamente entre a passagem do Nó de Francos e o início do Hospital da Prelada, no sentido Arrábida-Freixo, a ultrapassar outros veículos, pela terceira fila, e muito concentrado a contornar a curva. Aquela curva foi, assim, um lugar inspirador.