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Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

27.Mar.13

Teixeira de Pascoaes


No princípio era a serra do Marão, e a serra do Marão estava junto de Deus e a serra do Marão era Deus. A serra do Marão estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito pela serra do Marão, e sem ela nada foi feito. Nela havia e há a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compreenderam. Há um homem, enviado por Deus, que se chama Joaquim. Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. A serra do Marão é a verdadeira luz que ilumina todo homem, incluindo o Joaquim. 

26.Mar.13

Manuela São Simão


Nasceu do outro lado do Atlântico e aqui se formou. Habituada a romper com as fronteiras físicas, neste momento tem um pé cá e outro lá (Londres). Nos últimos anos, em belas artes, topou que o território assume formas abstractas orgânicas. Antes que se desorientasse entre aquelas pôs-se a desenhar mapas mentais. E assim descobriu um terreno fértil para se instalar. Não a percam na Galeria Extéril. 

23.Mar.13

Mário de Oliveira

 

O filho da Ti Maria do Grilo e de Ti David teve e tem muitas moradas. Lourosa (Santa Maria da Feira), Ermesinde (Valongo), Sé, Massarelos, Bonfim, Cedofeita, São Nicolau, Antas (Porto), Guiné-Bissau, Mafamude, Santa Marinha (V. N. de Gaia), Paredes de Viadores (Marco de Canaveses), Braga, S. Pedro da Cova (Gondomar) e Macieira da Lixa (Felgueiras), são algumas delas. Talvez por influência do nome do lugar onde atualmente reside, quando se põe a pregar tem o dom de arranhar a sensibilidade de certas eminências. Podia responder ao apelido Macieira, mas nasceu e há-de viver Oliveira. Um homem resistente, sim Senhor! 

21.Mar.13

Manuela Bacelar

 

À força de tanto as desenhar (com caneta de aparo de molhar no tinteiro) tem as ruas do Porto nas pontas dos dedos. Do cimo da sua inspiração também já desenhou claraboias e azulejos da invicta. De quando em vez, desenha vogais, consoantes, pontos . : ; ! ? e – ~ ^ ´`” ( ) …, que, juntinhos ou afastados, em cima ou em baixo, contam histórias com princípio e Bonfim.

18.Mar.13

João Pedro Mésseder

 

Parece que o estamos a ver: num longo e esguio corredor, emparedado por estreitas janelas, caminha um rapaz, aí dos seus treze anos, trajando um casaco castanho de bombazine e levando na mão o Filho do Homem. Tem um ar estimado e muito prendado. Depois vemo-lo descer a Avenida Camilo compenetrado a soletrar sílabas de pedra. A seguir, a cruzar olhares fugidios com as princesas do Rainha. À noite, perdido na cidade aplacada, é fácil surpreendê-lo a ouvir o brilho da água e a olhar o céu à espera que as estrelas desçam para boiar no rio. Já na altura era um menino que padecia de um vício incurável: a poesia. 

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