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Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

24.Mai.13

A BULA de Maio

 

A BULA de maio foi aviada por João Pedro Mésseder com seis poemas e um texto em prosa sobre a Ribeira, enquanto a ilustração ficou a cargo de Fedra. Relembra-se que A BULA deverá ser mantida ao alcance e à vista das crianças e adultos e lida sempre de acordo com as indicações de cada autor. Tempo de leitura previsto: 15 minutos (valor médio), podendo variar consoante a idade, peso e o grau académico do leitor. Caso não consiga consumir ao fim de trinta minutos recorra à ajuda de um familiar e se o problema persistir consulte o Ministério da Educação.

 

Para fazer download basta clicar na imagem.

  

Ver criação d’ A BULA  aqui.

24.Mai.13

O mercedez topo de forma

 

É noite. Parado, em frente à farmácia Portela, do lado exterior da rotunda, está um mercedez. É preto e muito brilhante. No topo de forma.


Prossigo a marcha e ao completar os 360º da rotunda ele ainda lá está. O dono deveria estar no Mon Ami, tinha de estar, pois quem tem um mercedez assim não pode estar doente.


Rotunda dos Aviadores, V. N. de Gaia, 23 de maio de 2013.

21.Mai.13

A força de Deus

Meu Deus! Meu Deus! Dai-me paciência, porque se me deres força eu parto-os todos.
 
Desabafo (pouco católico) de uma professor devidamente identificado.

18.Mai.13

Equilíbrio consistente

 

O tempo tem destas coisas, tende para o equilíbrio.

 

Há uns anos atrás, mais de quatro, depois de terem ocorrido vários assaltos na garagem coletiva decidimos reforçar o fecho da porta da nossa garagem individual. Além da fechadura existente, acrescentamos uma outra em que o linguete entrava pelo chão adentro.


Para nossa surpresa, desde aquele dia, a porta basculante deixou de ficar imediatamente suspensa quando empurrada até cima. Passou a descair logo que chegava ao limite. Por isso, se eu estava sozinho, tinha de a segurar até que finalmente se equilibrasse (dava tempo ao tempo). Nos momentos em que estava acompanhado, alguém fazia de escora enquanto tirava o carro.

 

E assim andamos anos.

 

A situação intrigava-nos. Todos os nossos vizinhos levavam a porta das suas garagens até ao cimo e aquelas, naturalmente, ficavam suspensas. A nossa? nem pensar! Criamos várias teorias, sendo que uma delas, a da ala feminina, era a de que a responsabilidade teria sido do responsável (valha a redundância) pela colocação da nova fechadura (tinha danificado qualquer coisa, dizia ela com convicção).

 

Um dia, aproveitei a presença do proprietário da garagem contígua à minha e questionei-o sobre o equilíbrio da porta dele (como é engenheiro teria mais conhecimentos sobre o assunto, pensei). Não havia truques, disse-me, enquanto subia, suspendia e descia a sua porta. Depois, a meu pedido, comparamos ambas as portas e verificamos que, afinal, eram iguaizinhas, sem tirar nem por, com uma exceção: a minha estava bastante oleada. Deduzimos, então, que o técnico que tinha incorporado a nova fechadura havia espalhado massa a mais nas molas, o que impedia a suspensão normal da porta quando atingia a posição horizontal (ela tinha identificado o responsável, mas não a causa).

 

- Um trabalho perfeito, sim senhor! - Dissemos em uníssono.

 

Não me restou outra alternativa senão a de esperar que a massa consistente se fosse tornando mais rígida (teria de dar tempo ao tempo).


Nesta última semana a porta prendeu à primeira. De início, a medo, larguei-a e esperei que caísse, o que não sucedeu. Nos dias seguintes, com confiança, logo que atingiu a posição horizontal, soltei-a e entrei à vontade para o carro.

 

Tirando os inconvenientes da situação anterior (normal, atendendo ao excesso de massa consistente), tenho de admitir e registar alguns benefícios resultantes da falta de equilíbrio da porta.

 

Por um lado, de um ano para o outro, o rapaz passou a antecipar-se à mãe e a segurar na porta (foi também uma boa maneira de nos apercebermos do seu crescimento). Por outro, pensava mais vezes em renovar, a tempo e horas, o seguro do automóvel contra todos os riscos (agora acrescia o risco do desequilíbrio). E, por último, foram momentos em que reforcei, ainda mais, a confiança no tempo como a solução para o desequilíbrio.

 

Por ter dado tempo ao tempo, ele encarregou-se de equilibrar a porta por mim.


Vila Nova de Gaia, 13 de maio de 2013.

15.Mai.13

A Geira Romana

 

Depois da Rota dos Romeiros (Fafe) fiz, enquanto romano (nickname), o Trilho da Geira Romana, entre Santa Cruz e Covide (Terras de Bouro[1]).

 

NOTAS SOBRE A CAMINHADA:


Água: a jorros, quando recolhida e encaminhada por obra do homem (aquedutos). A rir, se escorria naturalmente pela encosta e encontrava pelo caminho pedras que lhe faziam cócegas. De onde em onde, parecia que a terra chorava, não era suficiente para formar um curso de água, mas dava para refrescar a alma. Talvez por isso, em certos momentos era bastante percetível o murmúrio da terra.

 

Orientação solar: todo o percurso foi feito do lado da encosta virada a norte. Daí a vegetação mais densa, com mais sombras que facilitavam a caminhada durante um dia soalheiro.

 

Fauna: vimos duas ou três vacas castanhas no cimo do monte (muito acima da Geira), vários garranos e um potro, um milhafre, metade de uma cobra (a parte da cauda) e um sardão verde estático[2].

 

Flora: muitos carvalhos, giestas, fetos e urze, esta última, especialmente na encosta oposta à Geira.

 

Kitsch: vimos um portão em chapa, enorme (alto e comprido), de acesso a uma moradia (quinta), delimitada por rede malha-sol. A casa estava revestida a granito amarelo lavrado. Foi o momento kitsch da jornada, à atenção de Álvaro Domingues.

 

Curva da eira: o restabelecimento das energias ocorreu no café Eiras (Covide). Com um olho na comitiva e outro no trânsito, pois a todo o momento algum veículo (mais tratores) ainda entrava pela esplanada adentro (já tinha entrada na mercearia contígua, segundo fonte fidedigna).

 

Veiga de Cima de Covide: quando chegamos ao sopé da encosta, ao deslumbrar aquelas leiras extensas e lavradas, surgiu-me, espontaneamente, sem qualquer esforço da memória[3], a ideia de classificar o lugar como uma veiga. Mais tarde, ao vaguear na net, confirmei que os naturais de Covide assim designam aquele sítio.


Terras de Bouro, 11 de maio de 2013.

[1] No dia 6 de maio foi publicado o Decreto n.º 5/2013, que procede à ampliação da área classificada dos marcos miliários da Via Romana XVIII e à redenominação do sítio classificado, no concelho de Terras de Bouro, distrito de Braga.

[2] Como aquele tinha ficado parado, por instantes, espantado com a comitiva, pude apreciar o verde intenso do reptil, ao contrário dos outros sardões que até então tinha visto a correr, que eram de um verde fugidio, antónimo do verde estático.

[3] Talvez tenha relembrado a veiga de Chaves ou a Várzea da Rainha.

13.Mai.13

Paula Sousa

A Paula é uma mulher empreendedora. Foi aqui, entre o Porto e Matosinhos, que começou a apalpar as novas tendências do design. Mas seria em Milão que ganharia o calo para a arte. De volta à terra e confrontada com o saber dos nossos artesãos, não teve mãos a medir com tanta imaginação que foi acumulando. Que o digam os clientes de Inglaterra, França ou Arábia Saudita que já adquiriram as suas peças made in Leça do Balio. 

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