Fartura de aparências
A carrinha Mercedez seguia à minha frente. Dentro do túnel havia luz suficiente para ver a extensão da amolgadela cravejada na traseira do veículo. Aquele contraste entre a robustez da marca Mercedez, insistentemente publicitada, e a chapa amachucada foi a chave que abriu a caixa onde venho guardando algumas ideias preconcebidas.
Do túnel até casa as ideias foram saindo em catadupa. Como já é habitual, tive de parar no semáforo da Teixeira Lopes (não é só o Jorge Sousa Braga que tem sempre um semáforo vermelho à sua espera), mesmo assim, as ideias continuaram a sair (não há semáforo que me valha).
Depois de todas somadas (e baralhadas), o resultado era uma conclusão tão evidente como evidente era a fragilidade da chaparia: a maioria das mensagens que percecionamos não passam de aparências e algumas são mesmo intencionalmente veiculadas como verdadeiras quando o não são (aqui há dolo: sabem que mentem, mas mesmo assim falam como se fosse verdade).
Exemplos:
- São as pessoas que de um dia para o outro descobrem que estão gravemente doentes, quando nada o indiciava.
- São certas instituições bancárias que vivendo da confiança do mercado, acabam por enganar não só os clientes como as entidades que as deviam fiscalizar.
- São licenciados que se descobre mais tarde que pouco ou nada fizeram para obter tal grau de escolaridade.
- São altos ou baixos representantes da igreja que a coberto das boas intenções enunciadas vezes sem conta, cometem crimes à luz da lei civil, sendo protegidos durante anos pelos seus pares.
- São atletas que vencem e vencem competições de modo fraudulento.
E mais não escrevo, porque o texto já vai longo para um assunto de chaparia e, além disso, está na hora de almoçar (a fome agora é outra!).
A 44 (sob o jardim Soares dos Reis, Vila Nova de Gaia), 23 de julho de 2013.