- Fica-me bem?
- Fica.
- Já vi que não gostas!
Faltou-me o adjetivo. Não basta ser sincero. Para ela é preciso ser muito sincero.
Vila Nova de Gaia, 25 de agosto de 2013.
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- Fica-me bem?
- Fica.
- Já vi que não gostas!
Faltou-me o adjetivo. Não basta ser sincero. Para ela é preciso ser muito sincero.
Vila Nova de Gaia, 25 de agosto de 2013.
Sempre viemos.
Não tem a monumentalidade de Conimbriga, em especial quando comparada com a casa dos repuxos, mas a extensão da cidade dá para compreender o relevo social e económico que a mesma teve.
Aqui não existe museu.
As peças de valor estão espalhadas pelo Museu Martins Sarmento em Guimarães, no Museu de Vila Nova de Gaia e no Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa.
O único pavimento em mosaico até agora descoberto (só visível parcialmente) está escondido debaixo da capela de Freixo.
Tal como em Conimbriga, o Fórum está virado a sul (sudoeste para ser mais preciso). Em certos momentos temos a sensação dejá vu, que se acentua mais quando contemplamos a paisagem para além do Fórum. Em Conimbriga aquele terminava num precipício acentuado (tinha o sopé no rio dos mouros). Aqui não deu para ter a dimensão exata do declive, mas a sua existência era percetível através do vão que ia do limite da plataforma à face da montanha mais próxima. Em ambos os casos, o espaço amplo e plano, a perder-se de vista (em direção sul), se, por um lado, transmite tranquilidade, por outro eleva-nos por efeito do contraste com a outra montanha, o outro lugar.
Mais uma vez tive a consciência da nossa precariedade. Foi um banho de fragilidade, de debilidade. Evitei escrever finitude, por este último ser um termo cruel e implacável, mais condizente com locais associados à morte, tais como cemitérios e urgências de hospitais.
Concluindo: por muito que custe a assimilar, o futuro não é sinónimo de progresso, nem de decadência. É sinónimo de incerteza.
Freixo (Marco de Canaveses), 25 de agosto de 2013.
Capital do Algarve.
in Cão Noturno perseguido por Glossário Canino, escreveu Paulo Moreira Lopes, ilustrou Rui Sousa, no prelo.
O mesmo que em terra de cegos, quem tem cão é rei.
in Cão Noturno perseguido por Glossário Canino, escreveu Paulo Moreira Lopes, ilustrou Rui Sousa, no prelo.
O RUI Sousa instalou-se em Santo Ildefonso. Natural de Valongo, veio estudar Belas Artes para a grande cidade e aí ficou a viver paredes meias com a faculdade. Está numas das zonas mais típicas do Porto, com uma identidade muito própria e forte, principalmente na zona das Fontainhas. Aquele lugar e as suas gentes influenciam de certa forma o seu trabalho. É só tirar a prova ao artista! →
- Não estás aqui, Paulo?!
- Não.
- Eu conheço-te tão bem!
Às vezes preciso de estar sozinho e saio de casa. Por agora, ela vai conhecendo a minha ausência, mas o caminho para lá chegar ainda não.
Vila Nova de Gaia, 24 de agosto de 2013.
Cão de raça holandesa.[1]
in Cão Noturno perseguido por Glossário Canino, escreveu Paulo Moreira Lopes, ilustrou Rui Sousa, no prelo.
[1] Ver poema Dique de Francisco Duarte Mangas e João Pedro Mésseder in Breviário da Água, Editorial Caminho, 2004, página 37.
Psicose causada pela abstinência ou suspensão do contacto com cães.
in Cão Noturno perseguido por Glossário Canino, escreveu Paulo Moreira Lopes, ilustrou Rui Sousa, no prelo.
Ele era o seu filho mais amado. O desejado. Sua mulher lho dera como recompensa pela espera. E chegara a hora do sacrifício. Era assim! Ninguém questionava. Ninguém ousava desviar-se da tradição. Dele todos esperavam que fizesse o mesmo. O sacrifício! Iria viver como morto os restos dos dias que lhe sobravam. Tinha de ser! Dividido, entre o presente e o passado, subiu a montanha com o filho a seu lado deixando para trás o povo ansioso. Lá no cimo, quando lhe pegou no braço, o menino reagiu incrédulo, piedoso. Tinha pressentido o fim e ali se despedia do pai, que ficaria com os outros. Seria assim? Então o homem abraçou a criança, deu-lhe um beijo profundo na testa e disse-lhe para ir à sua vida. A seguir desceu ao povoado. Os outros esperavam-no com a raiva nos olhos e a justiça nas mãos. O que seria agora deles? Como reagiria deus? Além disso, até àquela data, todos os pais tinham sacrificado os seus primogénitos. Ele não, porquê? Se discordava, por que não o disse? Não respondeu. O amor não se comparava: era o que vinha pensando ultimamente. Enfrentou-os, corpo a corpo, mas por estar sozinho (a mulher ficara em casa à espera da notícia da sua morte) foi incapaz de os vencer. Morreu às mãos deles. Foi o sacrificado. Isaac, que partira em sentido contrário ao da sua aldeia, nunca esqueceria o amor do Pai.
Vila Nova de Gaia, 22 de agosto de 2013.