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Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

30.Nov.13

Diálogos conjugais XIII

- Paulo, porque te afastas tanto de mim?

- E tu porque não te aproximas mais de mim?

- Tenho medo de cair.

 

Quando desço as escadas do prédio, seja sozinho ou acompanhado, vou sempre disparado. O objetivo é chegar ao fim sem ter de voltar a carregar no interruptor. Eu consigo[1]. Ela nem tenta, por isso desce dividida entre a atenção aos degraus e à luz de presença do interruptor.


Vila Nova de Gaia, 30 de novembro de 2013.



[1] Espero que não mexam no temporizador do automático de escadas.

29.Nov.13

Madalena Santos

 

Madalena goza da particularidade (será privilégio?) de ter nascido e continuar a viver no limiar da vida rural impregnada de influências citadinas. Esse lugar situa-se na freguesia de Nogueira, no concelho da Maia. Crê que o meio onde vive não determinou as suas opções profissionais e artísticas. No entanto, enquanto escritora vai absorvendo tudo o que a envolve. E também age sobre o ambiente cultural que a rodeia, como sucede com a criação de uma biblioteca na Junta de Freguesia. Se tivesse nascido e vivido fora da Maia, seria a Madalena, mas não seria a mesma pessoa. 

28.Nov.13

O saco

 

O vizinho do primeiro andar caiu-nos do céu. É um homem muito simpático e muito nosso amigo. Sempre que alguma coisa lhe cai no terraço, é certo e sabido, que a guarda e depois coloca-a num saco que a seguir deixa pendurado no puxador da porta do rés do chão para nós a reavermos. São meias, camisolas, brinquedos e outros objetos indefinidos. Há dias em que são como tordos. Mas como nem sempre lá caiem coisas, o nosso vizinho, para não cair no esquecimento, deixa objetos pessoais no saco. Nós, como não queremos que o gesto caia em saco roto, levamo-los para casa e deixamo-los cair no terraço.

 

Vila Nova de Gaia, 27 de novembro de 2013.

24.Nov.13

Norte

Cão com tino[1].

 

in Cão Noturno perseguido por Glossário Canino, escreveu Paulo Moreira Lopes, ilustrou Rui SousaEuedito, página 26.



[1] Era também o nome do perdigueiro de António Vale de Castro Neves. (cfr: Entre os montes e o vale, da Padrões Culturais Editora, página 202)

21.Nov.13

Convincente

 

A escrever tem um grande defeito: é muito prolixo. Por muito que escreva de acertado, quando chegamos ao fim do texto já nos esquecemos do princípio e a conclusão não acontece, não existe nenhuma explosão mental (boa = meu ponto de vista ou má ≠ meu ponto de vista)[1].

 

A falar parece que não filtra o que pensa, daí dizer-se que pensa alto. Talvez, por isso, tenha um discurso credível, sincero, mesmo que se discorde do que diz sem pensar. Eu, pelo menos, tendo a acreditar no que diz, correndo o risco, é certo, de ser enganado. Mas não devo ser o único.



[1] Ao contrário de José António Saraiva, Luís Delgado e do falecido Manuel António Pina, em que as crónicas, quer se goste ou não, são como uma bomba relógio, como dizia Carlos de Oliveira.

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