O escultor
Abri a porta e lá estava ele à minha espera. Sentei-me e fiquei a apreciá-lo. Começou a andar à volta do objeto, da esquerda para direita e da direita para esquerda à procura do melhor ângulo. Para tirar dúvidas, media o desbaste com os dedos. Quando parava, investia com determinação sobre a peça. Os desperdícios iam-se espalhando pelo chão e alguns ficavam agarrados ao corpo. Eu estava curioso no que aquilo ia dar. Às vezes ele levantava a cabeça e conferia a obra refletida no espelho. Nestes momentos os nossos olhares cruzavam-se. Já no fim perguntou-me: que tal? Eu revi-me e respondi: mais leve!
Vila Nova de Gaia, 26 de janeiro de 2014.