- Com boa vontade, tudo se arranja… - disse, conciliante, uma velhota, a passar e a empurrar um homenzinho afundado em malas.

Miguel Torga, in Vindima, 5.ª edição, página 22.

E se houve quem chorasse pelo fim das personagens que se haviam tornado parte do quotidiano, outros — muitos — aplaudiram a integridade artística, a resistência ao abastardamento da criação.

- Pai, és a favor da autoridade do Estado?

Sim, claro que sim. Sem autoridade não há Estado, sendo que aquela se manifesta através da Lei, a qual, por sua vez, deve ser geral (aplicável a todas as pessoas) e abstrata (aplicável a todas as situações) e na capacidade de a fazer aplicar coercivamente (tribunais e autoridades policiais).

Vila Nova de Gaia, 22 de março de 2014.

Subiu-lhe à cara luzidia uma onda de indignação.

Miguel Torga, in Vindima, 5.ª edição, página 23.

Há que tempos lá iam, essas horas amargas que esquecera ou arrumara no sótão das lembranças.

Miguel Torga, in Vindima, 5.ª edição, página 22.

O senhor Lopes, apertado entre dois corpos vizinhos e dois cabazes, rilhava os dentes a olhar os intrusos.

Miguel Torga, in Vindima, 5.ª edição, página 22.

Os de fora, então, a ombros, a pragas, a desculpas e a sorrisos, iam-se apossando dos seus direitos, trilhando e submergindo os direitos dos outros.

Miguel Torga, in Vindima, 5.ª edição, página 22.

Infelizmente, tinha apenas respigado os títulos mais sensacionais, embalado pela música respiratória da locomotiva, quando aquela enfiada de cortiços em andamento parou, e todas as carruagens, sem excepção, foram invadidas por uma avalanche de gente, malas, cestos, sacos e embrulhos.

Miguel Torga, in Vindima, 5.ª edição, página 22.

Abria as folhas da gazeta como se quisesse penetrar em pessoa na intimidade das próprias notícias, ali postas por sua intenção.

Miguel Torga, in Vindima, 5.ª edição, página 22.

Sólido, bem tratado, todo ele respirava vontade e convicção.

Miguel Torga, in Vindima, 5.ª edição, página 22.