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Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

15.Fev.15

Predadores da vida

FalcãoPara evitar o choque dos pássaros contra as barreiras acústicas em vidro/acrílico colaram-se nestas últimas imagens de pássaros predadores (aves de rapina).

 

Uma forma curiosa de usar a ameaça da morte para salvar vidas.

 

Porto-Braga-Porto pela A3, 13 de fevereiro de 2015.

15.Fev.15

O próximo

Chema Madoz- Pai, no final do funeral também se lançam flores para se saber quem é o próximo a morrer?

 

Chama-se a isto humor negro. Começa cedo!

 

Vila Nova de Gaia, 31 de janeiro de 2015.

09.Fev.15

Ao desafio com Rui Manuel Amaral

Rui Manuel Amaral

Cansados de esperar pela publicação de novos contos de Rui Manuel Amaral (diz que não escreve microcontos!), fomos desafiá-lo a falar sobre algumas histórias já dadas à estampa (Caravana e Doutor Avalanche), os estados de espírito, o destino, os amigos cujos nomes ainda não conseguimos pronunciar, sem esquecer a D. Inércia de quem é muito chegado, a saúde, as obsessões (qual delas a mais grave?), os crimes cometidos sem remorsos e ainda por julgar (será que terão prescrito?). Enfim, muitas questões para quem leva o trabalho a sério.

09.Fev.15

A BULA de Fevereiro

A BULA FEVEREIRO 2015

FEVEREIRO é o mês do ajustamento do calendário. E também do acerto do estado do tempo. Vivemos no inverno com saudades da primavera. Neste período descuidamos os agasalhos e a febre é mais que certa. São os terrores da existência que não podemos evitar. Para nos ajudar a superá-los, Catarina Dinis propõe-nos sete comprimidos literários feitos à base do princípio ativo de um coração apaixonado. A ilustração é de Renata Carneiro. O titular daAutorização de Introdução no Mercado e Fabricante d’A BULA é o Correio do Porto, tendo esta sido aprovada pela última vez no dia 31 de janeiro de 2015.

 

Para fazer download basta clicar na imagem.

 

Ver criação d’ A BULA  aqui.

01.Fev.15

Atravessadouros

Biblioteca Almeida Garrett

O tempo era de chuva e o guarda-chuva tinha ficado em casa. Não tive outra alternativa. Fui sempre a correr atrás dos outros. Quando me apercebi já estava no meio do atravessadouro. De novo uma sensação de culpa. Atenuante: não tinha guarda-chuva.

 

Atravessadouro entre a entrada dos jardins do Palácio de Cristal e a Biblioteca Municipal Almeida Garrett, 1 de fevereiro de 2015.

 

§

  

   

 

Não sei desde quando, talvez desde sempre, que tenho aversão aos atravessadouros. São como uma infração ou irregularidade que não devo cometer, nem permitir que se materializem em meu redor. Na infância e adolescência, quando ia com os meus amigos passear nos campos e montes de Valongo, S. Martinho do Campo ou Rebordosa, e tínhamos que passar pelos carreiros ficava com receio de ser surpreendido pelos proprietários. Caminhava com um olho no trilho e outro nas redondezas. Tinha a consciência de que estava a ir por maus caminhos, de que não devia ir por ali, de que, em alternativa, devia seguir pelas ruas, estradas, estradões ou caminhos vicinais públicos.

 

Já em adulto a sensação repete-se. Se tenho de atravessar uma rua e está por perto uma passadeira sinto-me forçado a atravessar sobre ela e se não o faço sinto-me mal. Se tenho de contornar um jardim e vejo um atalho, raramente sigo por este e se o faço fico envergonhado.

 

Nunca tive explicação para esta atitude auto repressiva e que acaba por ser a aplicação prática do ditado popular: quem vai por atalhos mete-se em trabalhos.

 

Será uma herança normativa e social?

 

Tendo a pensar que sim, pois a alteração legislativa que aboliu os atravessadouros entrou em vigor no ano em que nasci[1]. Não sendo aquela uma resposta incontestável é, pelo menos, uma referência conjuntural que não posso renegar.

 

Vila Nova de Gaia, 24 de maio de 2013.



[1] Os atravessadouros foram abolidos em 1967, mais propriamente com a entrada em vigor do Código Civil, cujo artigo 1383.º determinou: consideram-se abolidos os atravessadouros, por mais antigos que sejam, desde que não se mostrem estabelecidos em proveito de prédios determinados, constituindo servidões.

01.Fev.15

Duas flechas cravadas no Corgo

 

Entrei no Reino Maravilhoso eram 8h 10m. Sozinho, sem ninguém à minha frente. Depois de ter ultrapassado vários pesados, iniciava a viagem por um novo percurso. Hoje iria passar sobre o rio Corgo pelo novo viaduto.

 

A experiência é simplesmente fantástica. Dizem que o tabuleiro fica a 230 m do fundo do vale do rio Corgo. Ao percorrê-lo parece que vamos a voar. É só horizonte, ou melhor, sob certas perspetivas (para jusante do rio) estamos acima da linha do horizonte (estaremos no céu?).

 

Tenho de confessar, contudo, que no princípio, ao visualizar o viaduto em forma de arco pressionado entre as montanhas, senti um arrepio na espinha. Aquela descida até às duas flechas, fez-me temer pelos travões do carro. E se o veículo fosse desamparado por ali abaixo[1]?

 

Por isso, foi com respeito (em termos rodoviário diz-se: com precaução) que desci até ao km 90+000 da A4 (diferente do km 90+000 do IP4). Não sei se foi por causa do temor, só sei que me concentrei exclusivamente na plataforma e evitei ser confrontado com pensamentos negativos. Se virasse a cara para o lado iria imaginar-me a cair naquele abismo[2]. Aguentei-me firme até ao km 90+000[3]. Só na alça de mira mirei de relance (curto) para o meu lado direito (era só céu). No descanso da flecha, ufa!, abrandei a tensão sobre o volante. Na alça de mira seguinte pude então deitar as vistas sobre o céu do meu lado direito (no esquerdo estava o Marão a assistir a tudo), eram só ondas de fraga, algumas picadas. Mais um descanso e dei comigo a contemplar, agora com serenidade e algum deleite, ambos os lados do vale[4]. O encaixe apareceu-me sem dar conta.[5]

 

Regressaria pelas 18h 15m com o manto da noite, aqui e ali bordado a ponto luz, totalmente estendido sobre o mar de fragas. O azul da manhã tinha sido levado pelas águas do Corgo até ao mar. Não havia lonjura, logo não havia receio. Todo o arco era uma longa alça de mira.

 

Do último encaixe até ao IP4 (nó de ligação?), ao passar numa das curvas foi o deslumbramento absoluto: Vila Real a ponto luz bordada. Só visto!

 

 

Vila Real, 14 de novembro de 2013, revisto em 1 de fevereiro de 2015.

 



[1] Durante a audiência, em Valpaços, sempre que se falava em arnês, pensava que nem assim eu me salvaria.

[2] É bem verdade que longe da vista, longe do pensamento.

[3] Ou muito me engano ou este km irá ser notícia no futuro pelos piores motivos.

[4] É só nesta altura (e que altura!) que penso em escrever sobre as sensações até aí vividas.

[5] Este viaduto não se compara nada com o da Lezíria - Carregado/Benavente, pois neste último a queda psicológica é amortecida pelo verde dos campos de milho.