Concha
Quem ouve mal coloca a mão em forma de concha junto ao ouvido para encaminhar as ondas sonoras.
Mirandela, 30 de outubro de 2015.
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Quem ouve mal coloca a mão em forma de concha junto ao ouvido para encaminhar as ondas sonoras.
Mirandela, 30 de outubro de 2015.
Debaixo do chuveiro sentimos o tempo passar.
Vila Nova de Gaia, 30 de outubro de 2015.
Ao parar na estação o comboio suspira de alívio.
Santa Aplónia, Lisboa, 29 de outubro de 2015.
Quando chove ouvimos o tempo passar.
Os carros olham para trás através das orelhas.
INÊS Botelho começou por ser o passado que será em Santa Marinha, uma freguesia entalada entre Mafamude e S. Pedro da Afurada, do concelho de Vila Nova de Gaia. E ali continua, no presente, enquanto escritora, mas com frequentes incursões pela não-ficção, a construir o passado que será. Neste passado há de estar obviamente uma certa cultura nortenha que lhe moldou, e ainda molda, parte do imaginário, ao ponto da própria cidade do Porto se ter convertido em personagem numa das suas obras. Eis aqui e agora um prelúdio do seu futuro passado.
MEMÓRIA descritiva: sobre o fundo de palco de teatro inscreve-se: PAPEL-PENSANTE e o desabafo – Que papel faz o ator desempregado? da autoria de Francisco Duarte Mangas.
MEMÓRIA descritiva: ADORMECER: primeiro apaga-se o A, depois a DOR, a seguir o ME e por fim o CER(1) ; FUGIR: cada uma das letras foge para seu lado; MERGULHAR: a palavra inclina-se mais ou menos 45º no sentido dos ponteiros do relógio tendo como ponto fixo o meio da palavra e a seguir da caixa; SENTAR: o E passa para debaixo do S e o N para debaixo do E, o T e o A assentam ao lado do N, enquanto o R vai alojar-se sob o A; SOLETRAR: cada uma das sílabas, lidas da esquerda para a direita, cresce e minga.
(1) Inspirado no Enigma n.º 403 de Augusto Baptista.
Recebera os filhos com uma girândola de insultos.
Miguel Torga, in Vindima, 5.ª edição, página 60.