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Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

Histórias mal contadas

São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.

22.Abr.17

A BULA de Abril

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COM um estado do tempo assim é caso para dizer: Monsieur Winter Go Home. Enquanto o inverno não se decide a deixar-nos de vez, urge cuidar do corpo e da alma. Este mês, João Manuel Ribeiro, conhecedor da obra de Ilídio Sardoeira, propõe-nos deste autor a toma de sete comprimidos literários e uma história para meninos crescidos (será um estendido?), com ilustração de Manuel De=Francesco. Torna-se público que o titular da Autorização de Introdução no Mercado e Fabricante d’A BULA é o Correio do Porto e que foi aprovada pela última vez no dia 31 de março de 2017.

 

Para fazer download clicar aqui.

 

Ver dobragem d’ A BULA  aqui.

 

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Farmácias de Serviço:

Asa de Mosca
Biblioteca Pública Municipal do Porto – S. Lázaro
Duas de Letra
Estação Ferroviária de Porto-Campanhã (i point)
Intervalo
Livraria Utopia
Livraria Velhotes

 

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Ilídio Sardoeira

É pena que um poeta e escritor como Ilídio Sardoeira não seja conhecido! A sua escrita, sobretudo os seus contos infantis, são verdadeiramente extraordinários, de uma poesia exuberante e estimulante.
Parabéns ao Grupo dos Amigos de Ilídio Sardoeira e à Biblioteca Municipal Albano Sardoeira (Amarante) por insistir em dar a conhecer um dos seus (entre tantos outros) ilustres. Para mim, foi um prazer coordenar a publicação dos contos de Ilídio Sardoeira e escrever a sua bi(bli)grafia “Ilídio Sardoeira: o caçador de madrugadas”.

Por João Manuel Ribeiro

22.Abr.17

Homenagem ao professor Adão Campos (1964-2016) no Dia Mundial da Poesia

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NASCI em Rebordosa (Paredes) e fui viver para Valongo com poucos meses de idade. Só ia a Rebordosa nas férias da escola. Até à adolescência era o paraíso na terra. O Adão Campos (1964-2016) também era natural de lá, onde sempre viveu até ser adulto. Quando o encanto do paraíso começou a desaparecer eis que conheço o Adão. Um rapaz de uma sensibilidade extraordinária. Adorava literatura (coisa rara num meio dominado por marceneiros e entalhadores) e transmitia-o com muito entusiasmo e convicção. Punha o que há de bom na literatura ao serviço da vida real.

 

Num momento em que me assolavam todas as dúvidas (namorar e saídas profissionais) o encontro com o Adão veio mesmo a calhar. Por ser mais velho e mais adulto, desdramatizava as minhas angústias existenciais. Às vezes até brincava e dizia que eu parecia o personagem da canção do Rod Stewart, Some Guys Have All The Luck (em 1984, eu tinha 17 anos). Vindo dele (já parecia professor) não ofendia (era o tempo das suscetibilidades) e mostrava a necessidade de eu aprender a relativizar as adversidades da vida (tão próprio das pessoas maduras). Aconselhava-me leituras e mostrava a sua admiração, naquele momento, por Almada Negreiros (acho que imitava o Almada ao alongar a haste do d de Adão quando assinava).

 

Em vez de curtirmos álcool ou outras drogas, tão habitual em alguns jovens à época, apostávamos na leitura e na música. Fazia-me bem estar com ele. Parecia outro. Sempre que o encontrava a dopamina disparava. A paixão dele pela literatura era contagiante. Os sentimentos positivos da leitura, como sejam a alegria, a esperança, o humor, a verdade, a simplicidade, a justiça e a solidariedade, tomavam conta dele e propagavam-se a nós. Era a personificação da boa literatura. Há os homens da ciência, da política, de Deus, da banca, do futebol, do campo, da indústria, da música, do cinema e de outras tantas atividades e interesses. Pois o Adão era um homem da literatura. Um poema feito homem que li fascinado.

 

O exemplo do Adão e de outras pessoas que entretanto pude vivenciar alimentam este projeto do Correio do Porto. Isto não é um desvario, um desafio ou um capricho. A paixão pela literatura (leia-se procura dos bons sentimentos pela leitura) é um modo de vida, de ser, que afeta todos os atos do nosso dia-a-dia (há quem diga que é uma doença). Não se pratica ou se exerce a literatura como se fosse uma profissão, passatempo ou frete. É-se literatura. Habituamo-nos a ver a realidade como uma possibilidade e não como uma fatalidade. Inspirados por tais sentimentos bons, acreditamos que é possível criar um mundo mais justo, mais solidário, mais digno, no fundo, com momentos de felicidade intercalados com a dura realidade, que não podemos, nem devemos desprezar. Por isso, como fez o Adão, vivamos a poesia!

 

Publicado in Correio do Porto

14.Abr.17

Acordar/levantar

Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.

 

Por Augusto Monterroso

 

 *

 

Quando me levantei

já as minhas sandálias andavam

a passear lá fora na relva

 

Por Jorge Sousa Braga in O poeta nu, Gerês, Assírio & Alvim, 2.ª edição 2014, página 134.

 

14.Abr.17

Pés = raízes

Mil anos que eles ficassem

imóves nem mesmo assim

os teus pés ganhariam raízes

 

Por Jorge Sousa Braga in O poeta nu, Os pés, Assírio & Alvim, 2.ª edição 2014, página 96.

 

*

 

São duzentas mulheres. Cantam não sei que mágoa
Que se debruça e já nem mostra o rosto.
Cantam, plantadas n'água,
Ao sol e à monda neste mês de Agosto.

Cantam o Norte e o Sul duma só vez,
Cantam baixo, e parece
Que na raiz humana dos seus pés
Qualquer coisa apodrece.

 

Por Miguel Torga

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