A tampa
Isto é superior a mim. Não consigo evitar.
Sempre que me deparo, nas minhas caminhadas, com aquela tampa desenquadrada[1] sinto uma reação que não designarei por revolta, mas de desconforto, de desagrado.
É que aquela posição não é a correta.
Quem calcetou o chão teve o cuidado (a arte) de alinhar a faixa de calcário preto do interior da tampa com a do exterior. Tudo foi feito para que a faixa preta fosse contínua, sempre da mesma largura, sem alterações. Tudo foi bem feito!
Mas alguém veio desalinhar a faixa. Por negligência leve ou grosseira ou até por dolo, alguém provocou aquela anomalia, aquela desconformidade. Fez mal feito!
O desalinhamento é sinónimo de erro. O erro, por sua vez, significa fealdade. A fealdade é uma coisa má. A maldade é a ausência do bem (como se fosse uma coisa abandonada) que originará, inelutavelmente, a destruição do ser.
Em conclusão, e por mais incrível que pareça, a tampa torcida é um prenúncio de morte.
Vila Nova de Gaia, 9 de setembro de 2012.
[1] Situa-se ao fundo do jardim Soares dos Reis, em V. N. de Gaia, no final da escadaria dos prédios que confrontam com aquele.