Está aí alguém?
Enquanto eles se entretinham no Cantinho do Adro, na Rua Direita, eu entrei na igreja matriz.
A porta do lado esquerdo estava aberta e, ao contrário do habitual, entrei por ela. Dentro do templo o silêncio era absoluto, como era absoluta a ausência humana. Perante aquele vazio ia a perguntar:
- Está aí alguém?
Mas não sei como e porquê, outra vontade superior a mim se interpôs e mantive-me calado. Sentei-me a contemplar a presença do sagrado.
Eles chegaram, ajoelharam-se e, sem O convocarem em voz alta, puseram-se a falar com Ele.
À saída (outra vez pela porta do lado esquerdo de quem entra) ao relembrar aquela vontade reprimida fiquei surpreendido com a minha tendência natural para o sacrilégio.
Melgaço, 5 de outubro de 2012.