A cidade piano
A minha companheira fincara as duas mãos em cima do parapeito, prescrutando o abismo com uma indiferença de esfinge desempregada. Depois, afastou as mãos um pouco, ligeiramente soerguidas, como se percorresse um teclado. A cidade assemelhava-se a um enorme piano, obscuramente entreaberto sob o tampo da noite.
David Mourão-Ferreira in As quatro estações, Editorial Presença, 6.ª edição, página 39.