No princípio era a coisa
A senhora falava de modo a ser audível do sítio onde me encontrava, pelo que o diálogo se tornou público (as falas dela, claro).
Explicou que uma máquina caterpiler (quis dizer caterpillar, mas pronunciou caterpiler) tinha limpo o terreno. Acrescentou, de modo explícito e natural, que a máquina tinha estado a catrapilar. Eu juro que ouvi. Aliás, para não me esquecer, logo escrevi num papel.
Em linguagem técnica, o que a senhora quis dizer foi que uma máquina retroescavadora tinha limpo ou ripado o terreno.
De imediato, veio-me à memória uma controvérsia com um amigo sobre o termo chavear. Segundo ele, a palavra existia e seria sinónimo de fechar à chave. Não queria acreditar. Custava-me a crer que da coisa (chave) nascesse o verbo. Pesquisei na net e descobri que no Brasil o termo é usado.
Lembrei-me, ainda, que no final do ano passado a imprensa desportiva noticiou que os dicionários suecos, a partir de 2013, iriam inserir o verbo Zlatanear, inspirado na personalidade de Zlatan Ibrahimovic.
Conclui, em tempo, (é a minha tendência para a generalização/sistematização dos pensamentos) que, afinal, no princípio era a coisa (nome) e não o verbo.
Esgueira (Aveiro), 5 de julho de 2013.