São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.
São factos do quotidiano, aparentemente sem qualquer importância, aos quais o autor dá a relevância do absoluto, do todo. É a sua obra-prima, sem prejuízo de outro entendimento.
Contrariando a vontade da mãe e o entendimento da aldeia, Pedro decidiu casar com Raquel, uma rapariga doente e com casos de loucura na família. No início tudo correu normalmente, mas a dada altura a mulher começou a dar sinais de loucura. Até que um dia o tentou matar. Desesperado, Pedro levou-a presa sobre um burro a uma capela à espera de um milagre. Depois de lá estar a mulher pareceu melhorar. À vinda, quando passavam junto a um pontão, ela suplicou-lhe para que a soltasse (...)
Tafona era um homem com oitenta e cinco anos. Sempre que podia ia caçar. Preferia o monte ao convívio com as pessoas. A mulher, Catarina, habituou-se à maneira de ser do marido e lá lhe ia contando o que se passava na aldeia. Só que ele não se interessava nada pelas novidades. Via o mundo assim de uma maneira inocente. Não admira, por isso, que no dia em que se apercebeu que alguém andava no monte a perseguir um casal de namorados lhe apontasse a arma ao peito e lhe dissesse:
- (...)
O Marta não perdoava ao Felismino por este o ter enfrentado na feira da Vila. Para se desforrar, um dia convidou-o para uma caçada, o que aquele aceitou muito contrariado. Durante a caçada iam-se vigiando mutuamente. Uma vez, o Marta ainda o tentou atingir com um tiro, só que o Felismino agachou-se a tempo. O Marta desculpou-se dizendo que tinha sido sem querer. O Felismino continuou à cautela e surpreendeu-o com um gesto equívoco, mas o Marta disfarçou-o de modo comprometido. No (...)
Carlos era um homem pequeno com o apelido de Artilheiro. Por ser pequeno foi-lhe difícil convencer a mulher a namorar com ele, mas depois ela defendia-o perante todos. Um dia, quando a mulher mostrava o filho a um vizinho, seu antigo pretendente, este gozou com a criança dizendo que seria ainda mais pequena que o pai. Carlos bateu-lhe com gravidade. Levado a tribunal foi absolvido pelo juiz que aconselhou o ofendido a não se meter com homens de brio, de mais a mais artilheiros.
Sin (...)
Garrincha tinha setenta e cinco anos e andava de terra em terra a mendigar. Naquele ano era sua intenção passar o Natal no lugar onde nasceu. A meio da caminhada começou a nevar de forma tão intensa que se decidiu a pernoitar numa capela. Para se aquecer fez uma fogueira no coberto com o andor que encontrou no interior. Depois foi ao altar e trouxe para junto de si a imagem de Nossa Senhora com o menino Jesus ao colo. Era um autêntico presépio. O Garrincha fazia de S. José.
Sin (...)
Mariana vivia a mendigar de terra em terra. Nos lugares por onde passava encontrava homens com quem convivia e ia tendo filhos deles. Mesmo sendo muito pobre não aceitava que os filhos ficassem ao cuidado dos pais. Para ela os filhos eram só dela. E assim se manteve.
Sinopse do conto de Miguel Torga Mariana, publicado in Novos Contos da Montanha, 10.ª edição de autor, Coimbra 1981, páginas 109 a 119.
Vila Nova de Gaia, 21 de dezembro de 2014.
As pessoas que se cruzavam com Julião suspeitavam que tivesse lepra, por isso evitavam estar com ele. Para confirmar o seu estado de saúde, Julião foi ao médico que lhe garantiu que padecia daquela doença fatal. Perante a doença e o desprezo da população, passou a sentir ódio por todos. Como vingança tomou banho em azeite que depois o vendeu a um comerciante da terra. Sem o saberem, as pessoas consumiram o azeite. Quando descobriram, perseguiram-no até o queimarem vivo.
Sin (...)
Raúl era um contador de histórias. De entre as histórias que contou houve uma que o Rodrigo, um pastor com dez anos, ficou muito impressionado e convencido da sua veracidade: Ali Babá e os Quarenta Ladrões. Logo que pôde, dirigiu-se à serra onde pastoreava o gado e tentou fazer como Ali Babá gritando: Abre-te, Monte da Forca! Só que nada aconteceu. Ele ficou muito triste e desiludido. Mas nem teve tempo para pensar mais no assunto, pois tinha acabado de nascer um cordeiro.
Si (...)
Natália era uma rapariga bonita e muito jovial. Um dia pôs-se a conversar com um rapaz muito tímido dando-lhe a entender que gostava dele. Ele, por sua vez, ficou a gostar dela. De modo muito discreto passaram a falar-se. Mas ele não era capaz de propor casamento à Natália. Até que ela lhe disse que outro rapaz lhe tinha pedido namoro. Para tristeza dela, ele não reagiu. Então ela decidiu namorar e casar com o outro.
Sinopse do conto de Miguel Torga Destinos, publicado in (...)
O Lopo disputava em tribunal a posse de uma mina contra um vizinho. Quando soube que perdeu a acção ficou profundamente perturbado e decidiu fazer justiça pelas próprias mãos. Matou o vizinho e fugiu para o estrangeiro.
Sinopse do conto de Miguel Torga O Lopo, publicado in Novos Contos da Montanha, 10.ª edição de autor, Coimbra 1981, páginas 91 a 99.
Vila Nova de Gaia, 11 de dezembro de 2014.